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terça-feira, 31 de maio de 2011

"Carpe Noctem"


Não vou mentir. Tão pouco irei correr atrás.
Posso até hesitar, mas não sei se quero voltar.
Estou largado na rua, com os cachorros, embriagados.
Eu conheci grande parte do mundo,
Mas nunca pisei em solo estrangeiro.
Eu amo estar onde estou,
Mas às vezes penso se não é melhor fugir.
Eu era um cão domestico que ficava solto no quintal.
Um cão que um dia sonhou
 Conhecer o que estava do outro lado do muro.

Eu sou um cão, que fugiu quando olharam para o lado.
Eu sou um cão que conheceu tudo,
Até onde minhas patas puderam me levar.
Que aprendeu a segurar uma cerveja, e ficar bêbado.
Não importando a situação...
Eu apenas continuava, bebendo.
Se me perguntarem hoje se sou aquele cão vagabundo
Que caminhava a esmo observando tudo admirado
Que tentou aprender tudo sem ficar parado.
Eu direi que sim.

Mas um dia tropecei em minha própria cauda e quebrei a cara.
Porque eu passei meus dias com uma mulher despreparada.
Fumei meus cigarros e acabei com todas as minhas cervejas.
Era a hora de fazer um novo começo. Era a hora de mudar
De ir para outro lugar.

Juntei minhas coisas e fiquei esperando à hora certa de partir.
Falaram-me que depois do horizonte existia uma mulher.
E que ela me faria esquecer todos os meus problemas
Com uma noite milagrosa, eu estaria renovado.
Eu irei atrás dela.

Eu já fiz tudo o que tinha para fazer aqui.
Aquela mulher acabou comigo,
 Eu preciso fugir para além das fronteiras.
Vou partir em breve, com uma dor no coração.
Eu vou embora para Austrália, lá as ondas são ótimas.
Lá eu irei surfar e manter meu coração quieto..

terça-feira, 10 de maio de 2011

O Martírio de Frederik

Eu vejo você, Stern, então o céu,
tão fria e tão infinitamente longe ...-
An Die Sterne Tradução
Sopor Aeternus


Eu estava parado a margem daquele rio de águas profundas e infinitamente escura. Meus olhos ardiam, e aquelas lágrimas não pareciam tão doces como as águas que corriam livres pelo rio.
Eu meio que contemplava aquela paisagem, enquanto meu corpo era destruído por sentimentos de amargura e impotência. Se eu corresse até cansar, ou indefinidamente ficasse ali parado não mudaria a exaustão de espírito, tão pouco mudaria o ódio que brotava daqueles sentimentos míseros que se tornavam uma cimitarra ensanguentada e impalpável. As folhas verdes, o vento calmo, sombrio e gelado arrepiava a minha pele. Eu deveria estar morto novamente.
Ele era um lindo homem, preso em toda sua masculinidade... E eu, apenas um garoto indefeso, pálido e sem vida. Querendo ver uma vida que nunca tive passar diante dos meus olhos antes de morrer perpetuamente. Que triste perplexidade este interposto.
Eu pude ver, então, pela primeira vez. A lápide fria do outro lado do riacho, deteriorada pelo tempo, mas ainda firme, esperando o que sepultar. O jogo acabou para mim, há algum tempo eu já sei disso. Entretanto, me falaram que o suicídio era indolor, mas ainda estou segurando essa lamina de prata que iguala o frio, o medo e uma triste solução.
Queria ouvir mais uma vez, cada palavra escrota que sai da sua boca, palavras que eu nunca pude entender. Um poeta me disse uma vez: Que seu único prazer era seu poder, incontestável, de criar nuvens brancas, que entravam e saiam de seu pulmão, mas hoje eu vejo que a única fórmula para isso não é o doce prazer de olhar a minúscula chama queimando perto dos lábios, pois de meus lábios saem às doces nuvens criadas pelo frio e minha fraca respiração que espera expirar o quanto antes.
Eu queria estar aqui até o próximo amanhecer, mas é tarde demais para arrependimentos e apenas os últimos martírios me restam. De certa forma, invejo esse homem discreto que vive dentro de mim, embora ele faleça essa noite em minha companhia. Sentindo o doce gosto da prata.